Acusado de manter contas secretas na Suíça, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, usou aliados de seu partido, o PMDB, e também do PT para tentar impedir que o Conselho de Ética se reunisse
Mesmo para um ambiente de truques e trapaças o comportamento de Cunha hoje passou dos limites, segundo o entendimento de dezenas de parlamentares.
A primeira dificuldade do conselho foi conseguir um lugar, espaço físico mesmo, para começar a sessão que apresentaria o parecer preliminar pedindo a continuação da investigação.
A sessão começou e minutos depois teve que ser suspensa. Cunha convocou uma sessão de votação no plenário, antes do horário habitual, e disse que todos os atos das comissões não tinham mais valor por causa da sessão deliberativa. Aí a confusão se instalou no plenário e houve muita reação.
“Desde as 10h44 que as comissões estão formalmente determinadas ao encerramento. Nada que aconteceu a partir de 10 horas e 44 minutos será considerado válido, e de qualquer comissão, qualquer tipo, coisa que tenha sido feita será anulado”, declara o deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara.
“O senhor tem que dar exemplo. O senhor não está mais dando exemplo. O senhor está perdendo a cada dia a capacidade de presidir. Eu convido todos os deputados a saírem da sessão. Pela ética, pela moral que nós temos que ter por essa casa e pelo povo brasileiro que nos trouxe aqui. Chega, senhor presidente. O senhor não consegue mais presidir. Levanta dessa cadeira, Eduardo Cunha”, diz a deputada Mara Gabrilli (PSDB/SP).
E não ficou só no discurso. Pela primeira vez desde que Cunha assumiu a presidência, enfrentou quase um motim dos deputados. Um grupo de deputados deu as costas para ele e depois abandonou mesmo o plenário. Com tanta pressão, Eduardo Cunha voltou atrás na decisão de anular a sessão do Conselho de Ética.
Os parlamentares voltaram para o conselho. O presidente, deputado José Carlos Araújo, repassou a defesa de Cunha para o relator, mas o parecer não foi lido e o presidente da Câmara negou que tenha feito manobras pra prejudicar o Conselho de Ética e deixou claro que vai recorrer.
“Para mim está configurado uma série de irregularidades que podem demandar um monte de recursos, recurso à CCJ, recurso ao Supremo, uma série de violações regimentais e cerceamento de defesa”, afirma Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
No meio desse tumulto que foi a reunião do conselho, teve outra surpresa: o presidente revelou que o relator, deputado Fausto Pinato, tinha recebido ameaças e pediu segurança para o deputado. O relator não quis falar muito sobre isso.
“Não cogito deixar a relatoria. Vou fazer o papel que eu fui escolhido de maneira isenta e transparente. Vou fazer o meu trabalho”, afirma o deputado Fausto Pinato (PRB/SP), relator do processo.
No fim das contas, o presidente da Câmara acabou ganhando um pouco mais de tempo. A leitura do parecer no conselho ficou para o dia 24 de novembro. Todo mundo já sabe que os aliados de Cunha vão pedir mais tempo para analisar. Com isso, a votação do parecer deve passar, provavelmente, para a primeira semana de dezembro.
Ele ganhou tempo, mas politicamente saiu mais fragilizado. Essa é a avaliação de deputados de vários partidos, inclusive de alguns próximos ao presidente da Câmara. Eles dizem até que, a partir de agora, o ambiente dentro do plenário, nas votações, não vai ser mais o mesmo