Diante do inflacionado mercado de transferências do futebol, em que clubes quebram recorde de gastos e pagam valores cada vez maiores por jogador dia após dia, Cristiano Ronaldo deu sua opinião. E foi bastante crítico. Em longa entrevista à emissora portuguesa “TVI”, o craque da Juventus tratou o cenário atual como “loucura”.- Hoje em dia, os preços praticados são surreais. Vou colocar o caso do João Félix (jovem português vendido ao Atlético de Madrid por €126 milhões) à parte, mas agora qualquer jogador sem ter provado nada vale 100 milhões de euros. Isto é a loucura. Vê-se centrais e goleiros sendo transferidos por valores astronômicos. Mas, por um lado também é bom, porque é sinal de que o negócio do futebol está vivo e, aparentemente, de boa saúde – criticou o jogador de 34 anos, que evitou estipular um preço para si mesmo.”Quando vejo goleiros sendo vendidos por 75 milhões de euros, um jogador que faça o que eu faço dentro do campo e que garanta gols tem que ter valor três, quatro vezes mais. Fácil”, completou.Cristiano Ronaldo também falou sobre a acusação de estupro no ano passado – arquivada em julho deste ano por falta de provas.- 2018 foi provavelmente o ano difícil para mim, a nível pessoal. Quando colocam a tua honra em causa dói muito, porque tenho família e um filho que já percebe tudo. Mas, uma vez mais, foi provado como os meus amigos e a minha família sabiam, que sou inocente – afirmou.
Quando criança, nunca pensou em ser o melhor
– O meu sonho era ser profissional de futebol, todos me diziam que era craque e comecei a criar essa ilusão. Mas se me perguntares se pensava que um dia ganharia uma Bola de Ouro, duas ou três, digo-te que nunca pensei nisso.Sei que obviamente o mais importante é ter talento, e isso tenho, mas, se reparares, grandes atletas de outros esportes, cientistas ou prêmios Nobel, são todos grandes trabalhadores. Gosto de copiar bons exemplos, não só no esporte. Todos tiveram grande talento, mas foram acima de tudo grandes trabalhadores.
Mudança para a Juventus
– A nível financeiro, não preciso do futebol para viver bem. Vou viver bem a vida inteira. Há projetos, e este da Juventus aliciou-me. Era um desafio. Tinha ganho na Inglaterra, Espanha e ia ganhar aqui na Itália. E consegui mais um recorde ao ganhar o campeonato. Gosto de desafios. Para mim, Madri já era uma zona de conforto. Depois de ganhar 17 ou 18 títulos, era mais um. As rotinas eram sempre iguais. Queria um novo desafio, sou uma pessoa que procura aperfeiçoar-me na minha área.
Sem idade para se aposentar
– Será que há algum jogador de futebol que tenha mais recordes do que eu? Tem (mais) prêmios? Se tiver prêmios, vamos lá! Mas há outras prioridades: as crianças, uma família, uma mulher, só Deus é que sabe. Posso abandonar no ano que vem ou jogar até aos 40. Quero desfrutar o momento.
A surpresa de Cristiano Ronaldo Jr.
– Eu gostaria que ele visse onde eu cresci. Ele já esteve na Madeira e esteve também na residencial ali no Marquês de Pombal, a Residencial D. José. Subiu comigo e estavam lá as mesmas pessoas que estavam lá na altura. Fiquei comovido, vou ser sincero, porque não esperava ver as mesmas pessoas e isso tocou-me um pouco.
– Fui com o [Miguel] Paixão, juntamente com o Cristianinho, e fomos mesmo ao quarto onde ficávamos. E o meu filho virou-se para mim ‘pai, tu vivias aqui?’. Ou seja, ele não estava a acreditar. Eles pensam que tudo hoje em dia é fácil. A qualidade de vida, casas, carros, roupa… Pensam que cai do céu. É isso que tento incutir ao Cristiano ou até mesmo quando faço eventos em escolas. Tento transmitir que o talento hoje em dia não chega. O que passa é que, com trabalho e dedicação, acho que consegues alcançar tudo aquilo que queres ser.
Foto: Reuters