A crise hídrica que atinge São Paulo desde o ano passado mudou a tradição de blocos conhecidos do Vale do Paraíba e virou até tema de Carnaval na região.
Foliões do bloco de carnaval mais famoso de Nazaré Paulista, o bloco dos “Moiados’, decidiram armazenar a água da chuva para manter a brincadeira de molhar o público de maneira consciente. A cidade é abastecida pelo Sistema Cantareira.
Na casa da contadora Bruna Souza a família já conseguiu guardar 30 garrafas pet. A água que sai da calha cai direto em um galão. “Não adianta proibir, os foliões vão sair [no bloco] e por isso trazemos esta conscientização de usar a água da chuva, pois ao contrário seria usada água para consumo humano”, disse.
A Secretaria de Meio Ambiente da cidade também montou tanques e alugou caminhões-pipa que serão abastecidos com 150 mil litros de água de chuva, que já está armazenada. A água será usada no bloco e também nos banheiros da festa. “A cidade já perdeu muitos turistas por causa da baixa da represa e muitos perderam o emprego. Sem a festa de Carnaval, a situação seria ainda pior para Nazaré”, disse o diretor da pasta, André Pinheiro.
O bloco dos “Moiados” sairá no domingo (15) e terça-feira (17) pelas ruas do centro. No ano passado, o evento atraiu 7 mil pessoas.
Em São Luiz do Paraitinga, um dos carnavais mais tradicionais do Estado, o bloco do Juca Teles também pretende economizar e aposta na consciência dos foliões – tradicionalmente a água é jogada com mangueira das janelas e sacadas das casas no trajeto por onde o bloco passa.
“Esperamos que as pessoas usem a água de forma responsável e quem sabe São Pedro nos dá uma forcinha e traga chuva”, disse o fundador do bloco, Benito Campos. O bloco se apresenta no sábado (12), às 12h.
Tema
A falta d’água foi o tema escolhido por pelo menos dois blocos de São José dos Campos. O bloco dos técnicos e estudantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sai nesta quarta-feira (11) levando o enredo ‘Não Existe Água em SP, Nem para mim, Nem para você!’. A folia vai contar com uma ala de tambores de lata e trará o grito de guerra: “Fecha a torneira pra encher o Cantareira”.
O bloco, que apesar da crítca tenta conscientizar o folião, vai se concentrar no portão principal do Parque Vicentina Aranha a partir das 18h30, saindo às 20h pela Avenida Nove de Julho até a Avenida Heitor Villa Lobos.
Outro bloco que vai adotar o mesmo tema é o ‘Acorda Peão’, organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos, que também levará para as ruas do centro críticas à falta d´água e aos desvios de dinheiro da Petrobras.
“Este ano foi difícil encontrar um único tema. Buscamos expressar todos os problemas que a população está passando. Há 17 anos trazemos para o bloco temas políticos, a letra e alegoria passam com humor uma mensagem que as pessoas não esquecem, além de alegrar a população”, disse o representante do sindicato e idealizador das alegorias, Edmir Marcolino.