O prefeito Bruno Covas (PSDB) foi reeleito neste domingo. Com 99% das urnas apuradas, o tucano obteve 59,3% dos votos válidos (excluídos brancos e nulos), derrotando Guilherme Boulos, do PSOL, que teve 40,6%. Com o resultado, previsto pelas pesquisas divulgadas nos últimos dias, os tucanos emplacam um segundo mandato seguido na capital. O anterior foi encabeçado pelo hoje governador João Doria, que deixou a prefeitura em abril de 2018 para disputar o Executivo estadual. Ao longo da campanha, Covas conseguiu se firmar como um político de centro ao se desvincular da polarização que cercou Doria e o presidente Jair Bolsonaro, antagonistas e possíveis rivais na eleição de 2020.
Covas chegou à sede do diretório estadual do PSDB, no bairro do Jardim Paulista, zona oeste de São Paulo, por volta das 19h40, de mãos dadas com o governador para fazer o discurso da vitória. Sua fala teve o tom moderado que marcou a campanha. Ele também fez acenos aos eleitores de Boulos: “Nós vamos governar para todos. A partir de amanhã não existe distrito azul e distrito vermelho, existe a cidade de São Paulo”, disse o tucano. “São Paulo não quer divisões”, afirmou. Ele agradeceu ao rival por terem travado “o bom combate”: “Meu avô dizia que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança. E agora acrescento: é possível fazer política sem ódio. É possível fazer política falando a verdade”.
Um dos primeiros desafios do prefeito reeleito será lidar com uma eventual segunda onda da covid-19 na capital. Até o momento, apesar do aumento de internações provocadas pelo novo coronavírus na rede privada e pública, Covas afirma não haver um novo surto da doença na cidade. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo, no entanto, aponta que São Paulo pode regredir de fase no plano de combate à doença à partir de segunda-feira, o que pode levar a novas restrições. Críticos, dentre eles Boulos, afirmam que a medida foi adiada para não impactar a popularidade do candidato. A gestão da pandemia pelo Executivo municipal —que apostou em isolamento social, fechamento de negócios não essenciais e implementação de hospitais de campanha durante a fase crítica da crise— foi elogiada pela comunidade médica.
Falando sobre a pandemia, Covas cometeu um deslize neste domingo ao afirmar que “agora começa o grande desafio de enfrentar essa crise que São Paulo, o Brasil e o mundo precisam encarar”. A frase contrasta com as afirmações anteriores de que não há segunda onda na cidade, recordista em número de mortos e casos confirmados. “Aqui não somos negacionistas”, disse o prefeito, numa crítica indireta ao presidente Bolsonaro. Antes dele, Doria afirmou que “as eleições terminaram, não há foco em nova eleição, há foco em vacinação e saúde”.
O prefeito reeleito é um dos novos quadros tucanos após o partido ficar marcado por sucessivas eleições dominadas pela velha guarda —sendo Geraldo Alckmin e José Serra os grandes expoentes desta vertente. Covas se diferencia até mesmo de Doria. Enquanto o governador sempre fez questão de se afirmar como um gestor e não um político (após ter surfado na onda da antipolítica à moda de Bolsonaro), o prefeito, que já foi deputado estadual e federal, declarou ter orgulho da carreira e da vocação para a política.
Apesar do perfil moderado, à moda do avô Mário Covas, que foi prefeito da capital e governador do Estado, Bruno escolheu como vice o conservador Ricardo Nunes (MDB). Vereador com um discurso alinhado à retórica bolsonarista, contrário ao aborto e defensor do projeto Escola sem Partido, o emedebista também tem contra si um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado por sua esposa anos atrás (ela diz não se recordar do episódio). Além disso, o parlamentar viu seu nome citado em um inquérito que investiga irregularidades em repasses para creches privadas da capital. Para evitar o desgaste, Covas, que já havia escondido Doria em sua campanha no primeiro turno devido à alta rejeição do governador, fez o mesmo com seu vice no segundo. Nos bastidores a escolha de Nunes para a chapa é creditada a Doria, que estaria articulando um apoio do MDB a uma possível candidatura sua à presidência da República em 2022.