O vírus da chikungunya provocou a morte de 48 pessoas no Rio, entre janeiro e novembro de 2019, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. O número representa um aumento de 380% no total de mortos pela doença em um ano. Em 2018, foram 10 óbitos.
A alta das mortes acompanha o aumento do número de casos. Ao todo, o Rio registrou 37.973 casos de chikungunya em 2019, 298% a mais que no ano anterior.
Crise ser agravante, diz especialista
A crise da Saúde municipal, com atrasos nos salários, greve de funcionários e problemas de gestão, pode determinar um novo aumento no número de mortes provocadas pela chikungunya em 2020, segundo o médico infectologista André Siqueira, integrante da equipe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do INI/Fiocruz.
Na opinião do especialista, a prefeitura já deveria ter um plano de ação específico para atender e informar a população.
“Com certeza há esse risco de aumento no número de mortes. A chikungunya pode ser letal e o que diminui o risco é um serviço de saúde bem preparado para atender a população. Se o serviço está prejudicado e sem um plano de contingência bem estabelecido, há um risco de aumentar os casos graves, consequentemente, aumentar o número de mortes”, alertou infectologista.
O médico acredita que, para evitar um surto da doença nos próximos anos, o ideal seria o município atacar questões mais amplas, como melhorias na urbanização de áreas mais humildes e aumentar o saneamento básico na cidade.
“A maioria dos criadouros do aedes aegypti estão dentro das residências. É preciso um combate diário. Aqueles dez minutos por semana têm um grande impacto. Estamos entrando numa época crítica para a transmissão dessas doenças”, comentou Siqueira.
Planejamento pode evitar mortes
Os especialistas alertam para os perigos de um novo aumento nesses números durante o verão, quando normalmente ocorrem os períodos mais quentes e chuvosos do ano. Essas condições climáticas são mais favoráveis para o surgimento de criadouros de aedes aegypti.
“Nós não tivemos muito sucesso para evitar a transmissão da chikungunya. Precisamos de educação de saúde e ações de engajamento comunitário. Ainda assim, sabendo que vai aumentar o número de casos, é preciso um planejamento para atender a população doente, principalmente os casos graves”, disse Siqueira.
“Nessa época do ano já deveríamos estar com tudo preparado. Estamos perdendo a batalha para o mosquito novamente”, comentou o infectologista.
O que diz a Prefeitura
Questionada pela reportagem sobre o aumento no número de mortes provocadas pela chikungunya, a Secretaria Municipal de Saúde informou que “a chikungunya é uma doença recém introduzida no país e no município apenas em 2015, de modo que toda a população carioca naquele momento era susceptível à infecção, uma vez que não havia histórico de imunidade pela doença. Isto explica o grande aumento no número de casos”.
A Secretaria não comentou sobre ações especiais para tentar diminuir os números de casos em 2020. Segundo o poder público, existe um combate ao vetor ao longo de todo o ano.
“Em todas as unidades de atenção primária e seus territórios existem ações educativas para orientar a população sobre as medidas que todos podem fazer para auxiliar na prevenção das arboviroses”, explicou a Secretaria Municipal de Saúde.
Para as autoridades, a forma mais eficaz de prevenir doenças como a chikungunya é evitar o nascimento do aedes aegypti.
“80% dos focos são encontrados em residências. Por isso, a participação da população é fundamental, eliminando em suas casas objetos que possam servir de reservatórios de água, onde se formem os criadouros do mosquito”, analisou, em nota, a pasta responsável pelos cuidados com a saúde do carioca.
Sobre os atrasos nos salários de parte dos profissionais da rede municipal de Saúde do Rio e greve de médicos e funcionários de algumas unidades de atendimento, a Secretaria respondeu que “os pagamentos estão sendo concluídos e todos os funcionários terceirizados de OSs estarão com seus salários em dia”.
“A existência de casos, graves ou não, não sobrecarrega o sistema”, concluiu a autoridade municipal.
Dicas para combater o mosquito em casa:
- Tampe os tonéis e caixas d’água;
- Mantenha as calhas sempre limpas;
- Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
- Mantenha lixeiras bem tampadas;
- Deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
- Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
- Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
- Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa;
- Cubra e faça a manutenção periódica de áreas de piscinas e de hidromassagem;
- Limpe ralos e canaletas externas;
- Atenção com bromélia, babosa e outras plantas que podem acumular água;
- Deixe lonas usadas para cobrir objetos bem esticadas, para evitar formação de poças d’água;
- Verifique instalações de salão de festas, banheiros e copa.
Foto: Carlos Moreira/VC no G1