Oficializada a candidatura da ex-senadora Marina Silva à Presidência pelo PSB nesta quarta-feira, a chapa corre contra o relógio para fazer ajustes na campanha e incorporar aliados da ambientalista nos altos círculos de decisão.
Embora dirigentes pessebistas digam que, com Marina, a candidatura não sofrerá alterações importantes, espera-se que a Rede Sustentabilidade, o grupo político da ex-senadora, passe a exercer influência equivalente à do PSB nos rumos da campanha.
As mudanças serão feitas com o bonde em movimento: com o início da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio nesta semana, a campanha já entrou em sua reta final.
Coordenador do programa de governo da chapa, o deputado federal Maurício Rands (PSB-PE) disse à BBC Brasil que é natural que Marina traga para a cúpula da campanha seus assessores mais próximos.
Ele afirmou, porém, que as alterações não afetarão a essência da candidatura.
“A campanha segue na mesma direção, feita em cima de um programa pactuado pelo PSB, pela Rede e pelos demais partidos aliados. A coordenação sempre foi bipartite (entre PSB e Rede) e sempre nos demos muito bem”, diz.
Na cerimônia em que sua candidatura foi oficializada, Marina disse que nenhum dirigente do PSB deixaria seu posto na coordenação da campanha para dar lugar a quadros da Rede.
Apoio seletivo
Nos bastidores, porém, há incertezas sobre os próximos passos da chapa. Antes da morte do ex-candidato Eduardo Campos, no dia 13, Marina e seu grupo já haviam se estranhado com a cúpula do PSB quanto a alianças nos Estados.
Dois dos desentendimentos ocorreram quando Marina barrou a aproximação da candidatura com os políticos ruralistas Ronaldo Caiado (candidato do DEM ao Senado por Goiás) e Ana Amélia (postulante do PP ao governo do Rio Grande do Sul), gesto que irritou dirigentes pessebistas.
Ela defendia que a chapa só se aliasse a políticos e partidos com quem mantivessem afinidades ideológicas.
Marina também se recusou a endossar alianças do PSB com o PSDB na eleição para o governo de São Paulo e com o PT na disputa para o Senado no Rio.
Em seu discurso na quarta, Marina disse que todas as alianças acertadas por Campos estão mantidas, mas que ela só apoiará as que foram costuradas com seu consentimento – o que exclui arranjos com o PSDB em São Paulo e o PT no Rio.
Candidato a vice-governador na chapa encabeçada pelo PSDB em São Paulo, o deputado federal pessebista Márcio França diz que Marina não será prejudicada caso ignore as alianças.
“Eu acho que ela tem que seguir o caminho dela”, afirma. “Ela entra num perfil não-partidário, o eleitor quer vê-la sozinha”.
França diz, ainda, que não pretende usar a imagem de Marina em seu material de campanha.
“Se eu tivesse que escolher, eu gostaria de continuar usando a imagem do Eduardo (Campos). Eu acho que, neste instante, é a imagem mais forte, porque o Eduardo passou, mas é o sentimento que sinto nas pessoas, de que existe um certo arrependimento: ‘Poxa, não sabia que ele era assim. Se eu soubesse!'”
Agronegócio
Outras dúvidas que pairam sobre a campanha dizem respeito à postura de Marina em relação ao agronegócio, um dos maiores setores da economia, que vem sendo assediado por todos os principais candidatos.
Como cabeça de chapa, Eduardo Campos vinha se esforçando para atrair votos e doações de expoentes do setor.
Ao menos em uma das tarefas ele vinha sendo bem sucedido: na primeira prestação de contas da campanha, empresas do agronegócio apareceram como suas principais doadoras.
Em sabatina recente na Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), Campos buscou mostrar-se simpático ao setor e combater temores sobre a influência que Marina exerceria nas políticas para o campo em seu eventual governo.
Não se sabe como Marina – que politicamente sempre se posicionou no pólo contrário ao dos ruralistas – tratará do tema na campanha. Em seu discurso, ela disse que a maior parte do setor está alinhada com suas ideias quanto à necessidade de aumentar a produção sem desmatar novas áreas, e que os demais agricultores aguardam incentivos do governo para seguir por esse caminho.
O PSB tem se esforçado em sinalizar que a candidatura não representa qualquer ameaça ao setor, e a nomeação do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) para vice da chapa é parte dessa estratégia. Albuquerque é considerado um hábil negociador e visto com simpatia por membros da bancada ruralista.
“Vamos continuar desenvolvendo uma interlocução que já tinha sido feita com o agronegócio”, diz o coordenador do programa de governo da chapa, Maurício Rands.
“Muitos atores importantes já sabem que não há qualquer ameaça ao agronegócio na nossa candidatura. Reconhecemos o papel do avanço tecnológico do agronegócio, seus mercados conquistados e importância para a balança comercial. É um caso de de sucesso nacional.”