O sonho de retomar a carreira motiva Bruno, preso desde 2010 pelo assassinato de Eliza Samudio. Mas o futebol também traz dor e faz o goleiro revelar mágoas. Em entrevista à Rádio Itatiaia, ele demonstrou tristeza com o elenco do Flamengo, a agonia ao acompanhar o 7 a 1 da Alemanha na Copa do Mundo e o objetivo que o move.
Bruno viveu o auge no Flamengo, em 2009, com o título brasileiro. Poucos meses depois, foi preso. Ele esperava apoio dos companheiros rubro-negros e disse que ninguém o procurou. Porém, em uma entrevista de 2014, à revista “Placar”, Bruno contou que vetou uma visita de Adriano Imperador com a intenção de preservar o atacante.
“Esperava ter recebido pelo menos uma carta, por exemplo, de algum jogador do Flamengo, daquele grupo. Esperava uma carta por tudo que eu fiz entre nós jogadores. Eu tomei muita pancada defendendo muita gente, que hoje eu sei que não merecia. Eu comprei uma briga muito grande. Eu me envolvi em polêmicas porque eu era amigo. Mas eles não mereciam minha amizade”, afirmou, em entrevista à Rádio Itatiaia.
Se os companheiros de Flamengo magoaram Bruno, ele recebeu visitas “surpresas”: “Alguns que eu nem esperava vieram até mim. Vou dar o exemplo do Fábio (goleiro do Cruzeiro). É uma pessoa pública e esteve lá me levando uma palavra de esperança. Eu acredito que as palavras que saíram da boca dele foram as palavras de Deus, que estava o usando como instrumento. Meu treinador de goleiro, o Robertinho, que é o treinador do Fábio, sentiu muito, foi um baque muito grande. Também esteve o senhor Tadeu, pai do Tardelli, pessoas que eu nem esperava. Gladstone e o Irineu (ambos zagueiros), iniciamos juntos no Cruzeiro, foram estas pessoas e desde já gostaria de agradecê-los.”
Bruno sabe que não será fácil retomar a carreira, mas avisa que não vai desistir.
“Eu não vivia do crime, mas cometi um. E estou pagando por ele. Espero voltar, não sei se vai ser daqui a um ano ou mais, mas vou atrás do meu objetivo. O meu objetivo, eu deixo bem claro, eu vou correr atrás, não vou acabar com minha carreira atrás das grades. Desde criança eu fui atrás disso. Eu passei minha juventude atrás deste objetivo. Eu cometi um erro, estou pagando por ele e não vou desistir. Uma frase que minha mãe sempre falou: ‘Lutar sempre, perder às vezes, mas desistir jamais’. Então, quando eu olho para minha mãe, para minha esposa, para minhas filhas, no dia a dia das visitas, elas sorriem para mim, isso me fortalece. Eu sei que o pior está por vir, mas eu estou preparado.”
Bruno contou que acompanha um pouco de futebol, mas evita a seleção brasileira – trauma da Copa de 2014 por acreditar que tinha potencial para estar ali – e o Milan (iria para o clube italiano).
“Eu não acompanho muito a Seleção porque eu olho, lembrando principalmente da Copa de 2014, que foi frustrante. Cada gol que o Brasil tomava, não é porque tem goleiros ruins, mas me doía porque eu sabia que tinha qualidade para estar ali. Na Copa, eu estava no Regime Disciplinar Diferenciado. Lá não pegava rádio, mas o pessoal se movimentou, porque Copa mexe com todo mundo”, disse.
“Nós conseguimos a liberação para ouvirmos. Ouvindo mais de 30 presos, improvisamos uma antena, o rádio chiava mais do que falava. Quando falava ‘Gooool’, era gol da Alemanha. E isso me doía, por isso que eu não consigo assistir jogos dos times que eu joguei, do Milan, porque eu tinha um pré-contrato assinado com o Milan. Eu ia para o Milan e acho que eu estaria entre os três na Copa do Mundo de 2014”, acrescentou.