Após reclamação argentina, credores especulativos entram na rota vigilante da ONU

A crise entre a Argentina e os fundos especulativos está dando pano pra manga. E, prepare-se, deve dar cada vez mais! Há pouco, ainda nesta segunda-feira, o juiz americano Thomas Griesa declarou a Argentina em “desacato civil” por supostamente tomar medidas ilegais para descumprir sua sentença relativa à dívida.

Fora de contexto, parece uma reação natural dentro de um processo judicial específico.

Não é.

O governo argentino, no qual vejo uma série de defeitos (e é provável que você também veja), definiu corretamente a declaração como um atentado contra sua soberania. Mais que isso: trata-se de uma ofensa, um ataque ao bom senso sistemático perpetrado por grupos que se aproveitam da fragilidade alheia para tirar vantagem.

A decisão da Justiça americana provavelmente seja uma reação a algo maior, que, por iniciativa argentina, desenha-se no cenário internacional. E isso pode levar até a um impasse diplomático mais adiante.

O chanceler argentino, Héctor Timerman, entrou em campo na semana passada – e o uniforme que ele usa não é só o azul e branco argentino, é o de todos os povos subjugados da mesma forma. Timerman quer transformar o caso argentino num exemplo de nação ameaçada pela abjeta especulação de rapina.

Em razão dessas gestões de Timerman, a Argentina conseguiu, na última quinta-feira, que o Conselho de Direitos Humanos da ONU condenasse os fundos especulativos – chamados de “abutres” pelo governo argentino – como um freio ao desenvolvimento dos direitos sociais, à habitação, à saúde e à educação.

Em 9 de setembro, a assembleia geral da ONU já havia aprovado a redação de um texto multilateral sobre o assunto.

A expectativa argentina é de que, com a formalização de um documento multilateral, países se defendam contra a especulação. Seria um golpe de mestre contra a especulação, que nada tem a ver com investimentos produtivos, aqueles investimentos que chegam a um país para obter vantagem – mas agregando valor.

A ONU abrirá investigação sobre os fundos que têm a especulação como meta.

Quem sabe não seja uma bela oportunidade de pôr limites onde não os há. Quem sabe não seja mais uma oportunidade de humanizar o sistema econômico mundial e abrandar sua enorme perversidade.