Dois anos após o acidente aéreo que quase matou Luciano Huck e sua família (e duas babás), o laudo da Aeronáutica divulgado na semana passada concluiu que o incidente ocorrido em maio de 2015 foi causado por pane seca, em uma combinação de falha mecânica e despreparo da tripulação.
O avião não devia nem sequer ter levantado voo, indica o laudo.
Embora as 9 pessoas da aeronave tenham se salvado sem ferimentos graves após o pouso de emergência em uma área rural no Mato Grosso do Sul, o resultado final da investigação deveria causar constrangimento em algumas celebridades da TV, como Geraldo Luís, da Record.
Reportagem exibida no ano passado em seu “Domingo Show” abusou do sensacionalismo.
Geraldo enalteceu e tratou o piloto como herói.
Sem dúvida, o pouso até merece elogios, mas a atuação de Osmar Frattini foi considerada falha pela Aeronáutica, que comprovou que ele e seu co-piloto não tinham treinamento adequado para pilotar aquele tipo de avião.
O laudo também indica que ele não seguiu procedimentos de emergência e desconsiderou informações sobre problemas na aeronave. O avião não deveria nem sequer ter decolado.
Além de elogiar o piloto, Geraldo Luís só faltou mesmo responsabilizar Huck e Angélica pelo acidente.
Ainda acusou o colega da Globo de ter “abandonado” o piloto, que estaria então em dificuldades financeiras, embora ele fosse funcionário da MS Táxi Aéreo –empresa que foi contratada por Huck.
“Era para os seus filhos estarem mortos. Era pra Angélica estar morta. Era pra você estar morto”, disse Geraldo em “recado” a Huck em rede nacional, após reportagem de mais de 30 minutos.
“Tapinha nas costas e panetone são muito pouco”, continuou o apresentador da Record, dando vazão a boatos de que Huck dera apenas um bolo de Natal ao piloto que salvara sua vida e a de sua família. Huck o abandonara à míngua, pregou o apresentador da Record.
Sem nenhuma base jornalística, sem nenhum trabalho sério de uma equipe de investigação, sem qualquer conhecimento de aviação (segundo esta coluna apurou) Geraldo Luís fez o papel de “juiz” em um caso que nunca teve a menor condição de julgar.
Em busca do ibope fácil, do sensacionalismo e do popularesco, acabou impondo a uma das vítimas o papel de culpado.
Agora, com o laudo divulgado pelos peritos do Centro de Prevenção de Acidentes Aéreos, todos souberam o que houve de fato.
Após 35 minutos de voo, o avião começou a cair porque na asa esquerda havia apenas metade d combustível que deveria ter lá.
Também havia um equipamento instalado incorretamente, que enviava informações erradas à tripulação, que, caso soubesse, poderia ter transferido combustível da outra asa.
Pior: o laudo indica que antes da decolagem o piloto percebeu que havia algo fora de funcionamento (embandeiramento), mas decolou assim mesmo. Enfim, foi um conjunto de falhas, erros e omissões que só não viraram tragédia pelo fator sorte.
“Porque o que eu tenho de falar eu falo”, completou Geraldo, arrogando-se na posição de telejusticeiro.
Pois Geraldo Luís agora tem o que falar. Pedir desculpas à família de Luciano Huck e ao telespectador em rede nacional, por exemplo.
Procurada para comentar o caso, a Record não se pronunciou.