Pela primeira vez no Brasil, um adolescente de 17 anos passou por uma cirurgia de transplante de tornozelo. O procedimento inédito visou restaurar a mobilidade comprometida na região devido a uma necrose avascular do tálus (osso localizado na parte inferior do tornozelo) após um quadro de leucemia. A cirurgia foi realizada pelo Hospital Mater Dei Contorno, em Belo Horizonte.
Esse tipo de transplante é pouco realizado no mundo devido à necessidade de grande precisão cirúrgica. “O transplante de tornozelo não é tão comum por ser uma cirurgia com chance de falha relativamente grande, em torno de 30%. Por esse motivo, muitas vezes, opta-se por outros procedimentos para a artrose do tornozelo”, explica Rodrigo Simões, médico ortopedista da Rede Mater Dei, especialista em pé e tornozelo e líder responsável pelo procedimento.
Para o procedimento no Brasil, foram utilizados guias de cortes feitos em impressão 3D, desenhados especificamente para o paciente via softwares especializados e imagens de tomografia computadorizada. “Esses guias de corte permitem uma precisão milimétrica, essencial na realização dos cortes ósseos adequados para um melhor encaixe da articulação no paciente”, afirma Simões.
Segundo o especialista, a equipe médica passou semanas estudando a tomografia do adolescente e realizando testes para garantir o sucesso do procedimento. “A articulação do tornozelo é extremamente sensível a desvios mínimos, se desviasse 1 ou 2 milímetros, poderíamos perder quase 60% do contato entre articulação, portanto, a precisão era essencial para evitar complicações futuras”, afirma.
Adolescente tinha sonho de voltar a jogar futebol
Vitor, o adolescente que passou pela cirurgia, está em remissão da leucemia há 5 anos, mas os tratamentos geraram sequelas. “Uma das medicações utilizadas durante o tratamento da leucemia é o corticoide. Quando utilizado em altas doses e por período prolongado, ele pode causar a necrose avascular. No caso do paciente, essa necrose ocorreu no tálus, um osso do tornozelo, causando desgaste e dor”, explica Simões.
O jovem relata que, para seu caso, havia três opções de cirurgias que poderiam ser realizadas, mas que ele optou pelo transplante para poder ter a mobilidade completa da região. O que o motivou, segundo comunicado enviado à imprensa, foi o sonho de poder voltar a jogar futebol, já que teve que parar de praticar o esporte devido a dores no tornozelo.
“Realizamos o diagnóstico do Vitor em 2020, porém, devido à sua idade na época, não podíamos realizar o transplante, pois isso poderia interferir no crescimento da região do tornozelo”, esclarece o médico. “Na época, optamos por uma cirurgia para colocar um espaçador, como se fosse uma prótese de cimento ortopédico, para ficar no lugar de um dos ossos, enquanto aguardávamos seu crescimento e a encontrarmos um doador compatível”, complementa.