O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta voltou a artilharia contra o ex-colega de governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19. O médico disse que Guedes está entre aqueles que orientaram mal o presidente Jair Bolsonaro, e afirmou que o Posto Ipiranga do governo é “intelectualmente desonesto e um homem pequeno”. A fala ocorreu quando Mandetta respondia a questionamentos da senadora Eliziane Gama (Cidania-MA).
Mandetta começou o depoimento elogiando a equipe que trabalhou ao seu lado no Ministério da Saúde, antes de o presidente da República demiti-lo, e afirmou que, embora ninguém fosse diretamente intimidado a agir segundo o negacionismo do presidente da República, era constrangedor ver como o presidente agia, causando aglomerações, recusando-se a usar máscaras, mesmo depois de ser instruído.
“A equipe ficou desconfortável de ver, com todos os arrazoados que tinham. Depois de explicar uma, duas, três vezes, as pessoas entendiam, passavam dois dias, faziam o contrário. Isso era desconfortável e era uma coisa pública. Era o ministro dando suas orientações e o presidente fazendo outras coisas que ele achava, provavelmente assessorado por outras pessoas que não estavam ali na Saúde, que era o ministério técnico para tal”, disse Mandetta.
Em seguida, o ex-ministro comentou sobre uma fala de Guedes, de que o Brasil deveria estar comprando vacina desde a época da gestão Mandetta à frente da Saúde. “Esse ministro Guedes, ministro da Economia, é um desonesto intelectualmente, um homem pequeno para estar onde está”, criticou. A fala de Guedes é de 17 de março último. Em entrevista a uma emissora, o ministro afirmou que Mandetta conseguiu R$ 5 bilhões, mas não comprou vacina.
“As pessoas na internet, nesse mundo, tem um mundo virtual que também é muito responsável por essas coisas. O presidente, muita gente, acha que a vida é do mundo virtual, se pauta com ‘likes’, enquanto o vírus e a doença estão no mundo real. No mano a mano. E esse ministro, ele não soube nem olhar o calendário para falar que, enquanto eu estava lá, nem vacina sendo comercializada no mundo havia”, continuou Mandetta.
Em seguida, o ex-ministro comparou Guedes ao presidente do Banco Central, que estava atento aos efeitos da pandemia no mercado, na saúde e no setor público, segundo Mandetta. “(Roberto Campos Neto) Ajudou muito. Esse da economia, não ajudou nada. Pelo contrário, falava que já mandou o dinheiro, agora se virem lá e vamos tocar a economia. Talvez tenha sido uma das vozes que influenciaram o presidente (Bolsonaro)”, alfinetou.
Em seguida, ele comentou a fala de Guedes, de que os brasileiros estariam vivendo demais, o que não é economicamente sustentável. “Eu peço desculpa aos idosos do Brasil por estarem incomodando o ministro da Economia”, disse.
Já sobre Bolsonaro optar pela Economia em detrimento da Saúde, Mandetta destacou ser uma falsa dicotomia. “A primeira coisa é que tem que ter sentimento, ter coração para tomar decisão pela vida, e acho que não é bem na cabeça. O problema é mais coração”, disse.
“Em um momento que mais ameaça a economia é um problema de saúde, dedução minha. Se fosse de outra área e eu fosse o ministro, iria até o ministro e pediria que me explicasse o que está acontecendo para eu pautar minhas ações. Mas nunca aconteceu, e o presidente repetia esse mantra que ‘entre saúde e economia, prefiro economia’, quando é um falso dilema. Todas as sociedades que não resolveram a saúde, demoraram o dobro do tempo para melhorar a economia”, alertou.
Desinteresse
Durante a sabatina, o senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE) questionou se seria verdade que o “presidente da República e ministros de grande poder de decisão, como Paulo Guedes, até dia 28 de março pelo menos, nunca se interessaram em sentar e analisar os dados da Saúde”.
“Sim. É fato. A primeira vez que o ministro Paulo Guedes escutou o ministro da Saúde para explicar o que era doença, foi na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na Câmara, em razão da reunião feita para votação do reajuste do BPC (benefício assistencial para idosos miseráveis)”, respondeu Mandetta. Segundo o depoente, ele estava indo ao Rio de Janeiro quando foi chamado para participar da reunião, ocasião em que pode explicar sobre a doença, também na presença do então ministro da Secretaria de Governo, Eduardo Ramos. “Foi a primeira vez que o ministro da Economia me ouviu”.