O ex-presidente Michel Temer virou réu pela primeira vez. A Justiça Federal de Brasília acolheu denúncia por corrupção passiva no caso da mala com R$ 500 mil reais da J&F.
O caso da mala de R$ 500 mil está tramitando na primeira instância após Michel Temer ter deixado a presidência e perdido o foro privilegiado.
A TV Globo teve acesso ao despacho em que o juiz Rodrigo Bentemuller, da 15ª Vara da Justiça Federal em Brasília, afirma que: “A possibilidade jurídica do pedido é indiscutível, tendo em vista que os fatos narrados na denúncia, em tese, constituem crime”, e que “a inicial acusatória traz, então, narrativa coerente de eventos sequenciais, que teriam resultado no recebimento, por Rodrigo Rocha Loures pessoalmente, a mando de Michel Temer, de vantagem indevida no valor de R$ 500 mil, ofertada por Joesley Batista”.
O juiz disse ainda que há “elementos que evidenciam a materialidade do crime imputado e indícios de autoria, os quais justificam a instauração do processo penal”. E conclui: “Por isso, recebo a denúncia em desfavor de Michel Temer”.
O ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures chegou a ser preso em 2017. Ele foi flagrado pela Polícia Federal saindo de uma pizzaria em São Paulo correndo com a mala de R$ 500 mil. Foi solto em seguida. Loures e Temer foram denunciados nesse caso por corrupção passiva pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot, que disse que o dinheiro da mala era propina paga pela J&F, destinada ao grupo político de Michel Temer.
Como Temer era presidente, a denúncia contra ele foi enviada à Câmara, que barrou o andamento da análise do caso até o fim do mandato. Sem foro privilegiado, Rocha Loures virou réu na primeira instância ainda em 2017.
Na última terça-feira (26), o Ministério Público Federal em Brasília pediu que Temer também virasse réu por corrupção passiva, ratificando a denúncia da procuradoria.
O juiz Rodrigo Bentemuller também determinou que o ex-presidente envie sua defesa em dez dias e aponte testemunhas. E que as provas contra Rocha Loures sejam aproveitadas no processo de Temer. A partir de agora, começa a fase de coleta de provas e de depoimentos para que, ao final do processo, o juiz decida se vai condenar Temer ou não.
O ex-presidente ainda responde a mais nove inquéritos em Brasília, Rio e São Paulo, e já foi denunciado em dois deles.
O que dizem os citados:
A defesa do ex-presidente Michel Temer classificou a denúncia como uma aventura acusatória de vida curta, que nasceu de uma operação ilegal e imoral. E disse ainda que é desprovida de qualquer fundamento, sem amparo em prova lícita.
A defesa da J&F e Joesley Batista não quiseram de manifestar. E nós não conseguimos contato com a defesa de Rocha Loures.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil