A nomeação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para ministra do Trabalho foi publicada no “Diário Oficial da União” desta quinta-feira (4). A posse deve ocorrer na próxima semana.
O nome da deputada foi levado ao presidente, segundo informou o Blog do Camarotti, em uma reunião no Palácio do Jaburu entre Temer e o pai dela, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do partido e condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão – em março de 2016, ele obteve o perdão da pena.
Após a reunião com Temer e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, Jefferson, em entrevista coletiva, confirmou a indicação e disse que o presidente aceitou.
“Eu não indiquei [a própria filha], surgiu o nome dela”, disse o ex-deputado. Segundo Jefferson, consultado, o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), “anuiu”.
O ex-deputado chorou ao fazer o anúncio.
O cargo de ministro do Trabalho está vago desde o último dia 27, quando Ronaldo Nogueira (PTB-RS) deixou o posto para retomar as atividades como deputado na Câmara. Ele argumentou, ao se demitir, que pretende se candidatar à reeleição.
De acordo com Jefferson, Cristiane Brasil não vai se candidatar à reeleição e, por isso, tem condições de permanecer no ministério até o final do mandato de Temer.
Inicialmente, o indicado do PTB para ministro do Trabalho foi o deputado Pedro Fernandes (PTB-MA). O parlamentar chegou a dizer que tinha sido convidado e que aceitou. Mas nesta terça-feira (2), ele afirmou que não assumiria mais a pasta por ter sido “vetado” pelo ex-presidente José Sarney (PMDB), que negou o suposto veto.
O parlamentar maranhense disse que “não deu” para ser ministro porque seu nome criaria “embaraço” entre o presidente Michel Temer e Sarney, um dos políticos mais influentes do PMDB e do Maranhão, base eleitoral de Pedro Fernandes.
Sem inquéritos no STF
Atualmente não há nenhum inquérito em tramitação sobre Cristiane Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em 2015, foram abertas duas investigações sobre a deputada para apurar supostos crimes eleitorais na eleição de 2014, mas os dois casos foram arquivados por falta de provas de seu envolvimento. Nos dois inquéritos, o próprio Ministério Público, responsável por acusações, pediu o arquivamento.
Em um inquérito, ela era suspeita de fazer propaganda irregular no dia da votação de segundo turno, quando foi vista com um grupo de pessoas que carregavam bandeiras em apoio ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-TJ). Depoimentos confirmaram que ela não participava de atos de campanha, só cumprimentou amigos.
Em outro caso, ela era suspeita de corrupção eleitoral, mediante fornecimento de exames oftalmológicos e óculos em troca de espaço na casa de eleitores para afixar propaganda, além de bancar festa para obter votos. Moradores e testemunhas negaram os fatos, apontados em denúncia anônima.
Citada em delações
A deputada, contudo, apareceu no ano passado nas delações feitas pela Odebrecht e pela J&F – mesmo assim, não foi aberta qualquer investigação.
Executivos da Odebrecht apontaram Cristiane Brasil como possível destinatária de parte da propina paga pela construtora a pedido do deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), na condição de coordenador de campanha do ex-prefeito do Rio de Janeiro Paes (PMDB-RJ).
Em abril, quando o caso veio à tona, a deputada disse que os contatos que já teve com executivos da empresa se limitaram a eventos institucionais.
No caso da J&F, o executivo Ricardo Saud disse que a empresa contribuiu para Aécio Neves comprar apoio de partidos políticos na eleição, com R$ 100 milhões. Cristiane seria o canal no PTB, que teria levado R$ 20 milhões para aderir à campanha do tucano. A deputada não se pronunciou à época da delação, em maio.
Perfil
Cristiane Brasil, de 44 anos, é advogada pela Universidade Católica de Petrópolis, cidade onde nasceu.
Em 2014, se elegeu deputada federal pela primeira vez. Antes, foi vereadora do Rio de Janeiro por três mandatos. Em 2009, comandou a Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida.
Na Câmara, votou a favor do governo Temer em temas importantes para o Palácio do Planalto, como a proposta de emenda à Constituição (PEC) do teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista e as denúncias contra o presidente.