A montadora chinesa Chery, em Jacareí (SP), cortou o salário de 400 trabalhadores em greve. A informação é do Sindicato dos Metalúrgicos, que considera a suspensão dos pagamentos ilegal – já que a greve não foi julgada ou considerada irregular pela Justiça. A paralisação por aumento nos salários completa um mês nesta sexta-feira (27).
Uma audiência está agendada para o próximo dia 7 no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em Campinas (SP), para que representantes da multinacional e do sindicato discutam o assunto – a reunião é de mediação e ainda não há processo judicial aberto. A última reunião, no dia 17 de outubro, terminou sem acordo.
Os trabalhadores estão em greve desde 28 de setembro. A Chery vem oferecendo 1,73% de reajuste, enquanto a categoria pede pelo menos 3,73% de aumento e renovação do acordo coletivo. O último pagamento foi depositado aos funcionários no dia 29 de setembro. O adiantamento, que estava previsto para o último dia 13, não foi pago.
De acordo com o sindicato, a suspensão do pagamento surpreendeu. Em situações semelhantes, em greves anteriores na Chery e também em outras montadoras de região, os pagamentos normalmente são mantidos no período da paralisação e, por meio de acordo após retorno da produção, os dias parados são repostos, transformados em banco de horas ou descontados de forma parcelada.
O TRT foi procurado para esclarecer os direitos dos trabalhadores da Chery nesta greve e informou em nota que faz a mediação das relações entre a empresa e os trabalhadores, quando acionada e que qualquer uma das partes pode recorrer à Justiça do Trabalho para solucionar o conflito. O órgão reforçou ainda que não há processo judicial em tramitação neste caso.
Lei
Segundo a Justiça do Trabalho, a ‘lei de greve’ prevê a suspensão dos contratos de trabalho durante a paralisação e impõe que as relações obrigacionais, durante o período, sejam regidas por acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. O tribunal não comentou o caso específico da Chery.
Mas para o sindicato, a decisão unilateral da montadora de suspender os salários é considerada arbitrária e uma manobra para pressionar o retorno dos empregados à fábrica.
“A greve é um direito do trabalhador e não pode ser atacada como uma transgressão. Uma empresa do porte da Chery adotar uma postura de cortar os salários é incomum. Na interpretação do sindicato, com base na lei, questões que envolvem a greve devem ser reguladas após o término da paralisação, com acordos”, disse Aristeu Neto, advogado do sindicato.
Os trabalhadores da Chery procurados pelo G1 preferiram não dar entrevista, por medo de represálias, mas informaram que a empresa pagou os salários apenas a uma parcela dos trabalhadores do setor administrativo, que trabalharam por meio de home-office.
A montadora fabrica em Jacareí, sua única unidade de produção fora da China, os modelos QQ e Celer. A produção no Brasil é de 30 veículos por dia e está parada desde o fim do mês passado.
Solidariedade
Uma assembleia em frente à fábrica foi agendada para esta sexta-feira (27). No ato, além de definir os rumos das negociações, o sindicato vai lançar uma campanha de solidariedade para convocar outros sindicatos a ajudarem financeiramente os trabalhadores da Chery.
“Mandamos ofícios para entidades de classes e abrimos uma conta para depósito financeiro de apoio aos operários que estáo sem receber. Na assembleia vai ser discutida a construção e uso desse fundo”, disse o diretor do sindicato Guirá Borba Guimarães.
Outro lado
A Chery foi procurada na tarde desta quinta-feira (26) e informou apenas que ‘infelizmente a greve completa 30 dias sem acordo entre o sindicato e a Chery’. Sobre a suspensão dos salários e acusação do sindicato, a empresa não se manifestou.