Em uma possível delação dentro da operação Lava Jato, o ex-ministro Antonio Palocci promete contar detalhes que podem colocar a TV Globo no meio dos escândalos do país. A possibilidade da delação foi tema de reportagem especial do programa Domingo Espetacular, exibido na noite deste domingo (16). Entre as revelações estariam detalhes de sonegação fiscal, empréstimos milionários com o dinheiro público e uso de empresas de fachada no exterior.
Ex-ministro da Fazenda, deputado federal e chefe da Casal Civil, Palocci está preso em Curitiba, condenado a 12 anos, e conhece como ninguém os bastidores dos negócios e negociatas dos irmãos Marinho. Em um depoimento ao juiz Sérgio Moro, em abril deste ano, o ex-ministro insinuou que poderia comprometer a empresa de comunicação.
De acordo com a reportagem do Domingo Espetacular, a mulher de Palocci, Margareth, estaria incentivando-o a contar tudo que sabe. Recentemente ele trocou de advogados e as notícias de que o ex-ministro pode comprometer a TV Globo ganhou força. Segundo o jornalista Reinaldo Azevedo, Palocci promete contar tudo que sabe.
Em Curitiba, onde o ex-ministro está preso, ele tem relatado o que sabe a seus advogados, que conversam com integrantes do Ministério Público Federal. Segundo fontes do Domingo Espetacular, a Polícia Federal teria sido retirada do circuito pela Procuradoria-Geral da República e integrantes estariam denunciando pressões para não aceitar a delação de Palocci sobre a Globo.
No depoimento em abril, Palocci contou a Moro sobre empresas de grande porto do Brasil que estavam para entrar em falência e que poderia ser de grande repercussão. Uma dessas empresas de comunicação teve problemas sérios nesse período.
História nebulosa
No início dos anos 2000, a TV Globo quase quebrou por causa de maus negócios ligados à Copa do Mundo de 2002. Bilhões de reais ingressam nos cofres da Globo por causa do mundial, parceria da emissora com a Fifa há quase 20 anos. Segundo a Receita Federal, a Globo fez uma operação ilegal nesta época utilizando uma empresa de nome Empire, para comprar os direitos de transmissão dos jogos. A investigação sobre o caso começou em 2005 e só foi revelada em 2013 pelo jornalista Miguel do Rosário.
Usando “empresas de papel”, a Globo enviou dinheiro para o Uruguai, depois para Caribe, e também para a Holanda. Lá, a emissora comprou direitos de transmissão para a Copa e transferiu para a Empire, nas ilhas virgens Britânicas, local conhecido por ser esconderijo de dinheiro sujo. Segundo a Receita, a Globo simulou investimentos para criar a Empire, como se fosse empresa de verdade, mas era só fachada. Depois da Copa, a empresa foi dissolvida e seus bens foram transferidos para a Globo, que deixou de pagar R$ 170 milhões de impostos no Brasil.
Quando a história veio à tona, na véspera de o processo ser remetido ao Ministério Público Federal, a servidora Cristina Maris Ribeiro furtou os documentos e depois foi condenada a quatro anos de prisão (dos quais só passou uma semana na cadeia). “Ao não chegar no MP, não se torna a investigação de ordem criminal, o que poderia ser um constrangimento muito grande para a família Marinho, inclusive política”, afirma o jornalista Miguel do Rosário. Anos depois, em 2014, a Globo se beneficiou da lei 12.996 para refinanciar sua dívida, que já estava em R$ 1 bilhão – mas também deixou de pagar outro R$ 1 bilhão em multas.