O UFC vive um momento de definição na sua história. Ao mesmo tempo que busca se tornar mais limpo e passar uma imagem do MMA mais sóbria e “empresarial”, ainda tenta se agarrar ao espírito de guerreiros e gladiadores do Vale Tudo, que o ajudou a se destacar do boxe e demais esportes e conquistar milhões de fãs pelo mundo inteiro. Talvez haja um meio-termo que agrade ambos os lados, mas o conflito atual é gritante.
A International Fight Week desta semana, e o fiasco do cancelamento da luta principal do UFC 213, demonstram bem esse problema. O megaevento se propunha como uma celebração do passado difícil não só da companhia, mas do esporte, e da evolução ainda em andamento de ambos. O contraste drástico não esteve mais aparente do que na cerimônia de indução ao Hall da Fama do UFC, na quinta-feira. Ali estavam Maurice Smith e Kazushi Sakuraba, celebrados por sua bravura em enfrentar homens muito maiores em lutas homéricas, às vezes sem conhecer o adversário até poucos minutos antes de entrar no ringue ou cage. Em seus discursos, ambos ressaltaram que fizeram isso por honra e orgulho, numa época em que as bolsas dos lutadores eram ínfimas se comparadas aos valores atuais.
O principal homenageado da noite, contudo, foi Urijah Faber, mais conhecido pelos jovens fãs que eram maioria na plateia. Longe de mim diminuir os méritos do “California Kid” como lutador; o louro de Sacramento começou sua carreira quando o MMA ainda tinha muito de Vale Tudo, foi campeão mundial legítimo no peso-pena e se manteve competindo em alto nível até sua última luta. Entretanto, seu aspecto mais celebrado em sua introdução foi justamente seu empreendedorismo, a forma como não só criou um mercado para os lutadores mais leves, mas também como soube alavancar sua popularidade, lucrar com ela e criar oportunidades para um futuro próspero mesmo após se aposentar do esporte.