O presidente Michel Temer (PMDB) abriu o contra-ataque ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, um dia depois de ser denunciado por corrupção.
Em pronunciamento, na tarde de ontem, o peemedebista chamou o documento acusatório de peça de ficção, alegou que a denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal é frágil por não conter provas e acusou, indiretamente, o chefe do Ministério Público Federal de estar ligado a irregularidades.
“Nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem”, disse o presidente ao negar o recebimento da propina da JBS que fundamenta a denúncia. Atacando a Procuradoria, Temer citou a figura de Marcelo Miller, ex-procurador da República, como um possível elo para atos irregulares envolvendo
“Um assessor muito próximo à PGR, Marcelo Miller, homem da mais estrita confiança do sr. procurador-geral (…) deixa o emprego que é sonho de milhares de jovens acadêmicos e advogados, abandona o Ministério Público para trabalhar em empresa que faz delação premiada ao PGR. Pela nova lei penal criada, a ilação, poderíamos concluir que talvez os milhões de honorários recebidos não foram só para o assessor de confiança”, acusou. E completou: “Não fugirei das batalhas. Nem da guerra que temos pela frente”.
A artilharia contra a PGR também veio do ministro da saúde, Ricardo Barros, ao alegar que a instituição estaria militando contra as reformas. “Sabemos que o Judiciário é a categoria mais privilegiada de todas as categorias de servidores, evidentemente que não querem a reforma da Previdência e fazem todos os movimentos possíveis para tirar o ambiente de votação da reforma”, disse.
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) seguiu a mesma linha e, em entrevista ao O POVO, insinuou que Janot fatiou as denúncias para desgastar a base. “O procurador deveria apresentar provas irrefutáveis para que a denúncia tivesse elementos. O absurdo não é só o prejuízo da base, mas que esse fatiamento tenha esse objetivo”, disse. O deputado acusou diretamente o procurador-geral de fazer política. “O Janot não deveria ser um líder político com estrategias para as que suas posições prosperassem na Casa”.
Estratégias
O cientista político Adriano Gianturco (Ibmec/MG) avalia que o ataque à PGR é “a única estratégia” de Temer tendo em vista que o “mandato está quase no fim”. Segundo o pesquisador, é uma maneira de se “agarrar à poltrona” apoiado por setores da sociedade.
Com aliados do presidente se movimentando na Câmara para tentar votar as denúncias de forma conjunta, o jurista Vladimir Feijó (Ibmec/MG) alerta sobre a possibilidade de manobra para evitar desgaste na base. “O regimento (da Câmara) é complexo e abre bastante poder para o presidente ir por caminhos alternativos”, destaca. Segundo ele, a inexistência de legislação clara acerca do tema deixa “a sociedade insegura” em relação o que pode vir da interpretação de parlamentares.