O Conselho Federal de Psicologia classificou como “barbárie” e “atrocidade” a ação da prefeitura de João Doria (PSDB) na Cracolândia, com o fim do programa Braços Abertos, criado pela gestão anterior.
A ação afronta os 30 anos de história da luta antimanicomial no Brasil, recém-celebrados em 18 de maio, e os princípios internacionais dos direitos humanos. A violência policial ostensiva foi o expediente utilizado para promover a remoção e a internação forçadas da população em situação de rua que habitava a área do centro de são Paulo conhecida por “Cracolândia”.
Na madrugada deste domingo (21), uma operação com 900 policiais retirou usuários e prendeu traficantes no principal ponto de consumo e comércio de drogas no centro de São Paulo. Na sequência, Doria anunciou o “fim da cracolândia”.
O prefeito anunciou que todas pensões e hotéis destinados a abrigar usuários de drogas serão interditados e demolidos. “Essa área será reestruturada urbanisticamente com prioridade para habitação popular”, afirmou.
No lugar do programa criado pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT), São Paulo terá o Redenção, que inclui internações de dependentes químicos.
A hospedagem e a remuneração por trabalhos como varrer as ruas serão preservadas, desde que os usuários se comprometam a fazer tratamentos de desintoxicação ligados ao Recomeço, programa da gestão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Esse “novo programa” repete fórmulas ultrapassadas, inadequadas e ineficientes do ponto de vista da saúde mental. Repete o “Programa Recomeço”, do governo estadual, e a “Operação Sufoco”, da gestão municipal. As três iniciativas têm como princípios o tratamento por internação, inclusive involuntária, em parceria com comunidades terapêuticas mantidas por entidades confessionais, não sendo coincidência o nome “Redenção”.
Na avaliação do Conselho Federal de Psicologia, as novas ações usam abordagens “inadequadas e ineficientes”.O programa de Haddad tinha orçamento anual de R$ 12 milhões e gasto de R$ 1.320 por mês por usuário. O de Dória não tem os custos informados. Já o de Alckmin, que prevê internações compulsórias, custa R$ 80 milhões por ano e R$ 1.350 por usuário por mês.