Ex-presidente da OAS já foi condenado em dois processos da Lava Jato.
OAS é apontada como a responsável pelas reformas no tríplex do Guarujá.
No dia 3 maio, o ex-presidente Lula vai ser ouvido pela primeira vez como réu em Curitiba pelo juiz Sérgio Moro. O ex-presidente será questionado sobre revelações do ex-presidente do grupo OAS a respeito de caixa dois, favores pessoais e propinas.
Vamos ver agora quem é esse empresário que acusou Lula até de mandar destruir provas.
O ex-presidente da OAS, de 65 anos, foi condenado em dois processos da Lava Jato, a penas que somam quase 35 anos de cadeia. Até setembro, recorria em liberdade, mas o Ministério Público recorreu, e o juiz o mandou de volta à cadeia.
Léo Pinheiro foi presidente do grupo OAS, uma das grandes empreiteiras envolvidas na Lava Jato, de 2001 a 2014, até ser preso pela primeira vez.
Segundo gostava de dizer, desenvolveu uma relação de proximidade com o ex-presidente Lula.
Quando no dia 4 de março de 2016 Lula foi levado coercitivamente a depor, o ex-presidente foi indagado se tinha se tornado amigo de Léo Pinheiro, e Lula respondeu afirmativamente.
Pergunta: O senhor se tornou amigo do Léo Pinheiro?
Lula: Eu diria que sou amigo e gosto do Léo Pinheiro.
Léo Pinheiro responde a três processos na Lava Jato. Esse em que depôs na quinta-feira (20) apura se o grupo OAS pagou propina de R$ 3,7 milhões ao ex-presidente Lula, por meio da reserva e reforma do triplex no Guarujá e também pelo transporte e armazenamento de bens do acervo presidencial. Em troca, a empresa teria fechado três contratos com a Petrobras.
A OAS é apontada como a responsável pelas reformas no tríplex e Léo Pinheiro, como aquele que negociava com Lula e que pagou por elas. No interrogatório, ele confirmou que o imóvel estava reservado para Lula e que o ex-presidente e a família pediram reformas. O advogado de Lula quis saber de onde vieram os recursos para a obra:
Pergunta: O senhor usou valores provenientes da Petrobras para fazer alguma reforma nesse imóvel?
Léo: Não. Eu usei valores de pagamento de propina para poder fazer um encontro de contas. Em vez de pagar x, paguei x menos despesas que entraram no encontro de contas. Só isso. Houve apenas o não-pagamento do que era devido de propina.
De acordo com Léo Pinheiro, Lula estava a par desse acerto.
Léo: Eu levei para o Vaccari e isso fez parte de um encontro de contas com ele. Vaccari me disse naquela ocasião que, como se tratava de despesas de compromissos pessoais, ele iria consultar o presidente. Voltou para mim e disse: “Tudo ok, você pode fazer o encontro de contas”. Então, não tenho dúvida se ele sabia ou não. Claro que sabia.
Este encontro de débitos e créditos na conta da propina, segundo Léo Pinheiro, somou R$ 15 milhões e incluiu também obras no sítio de Atibaia e em outros empreendimentos. Léo Pinheiro ainda disse que dona Marisa Letícia pediu rapidez na reforma do triplex para passar as festas do final de 2014 lá, e explicou porque, justamente nesta época, o ex-presidente não ia ao apartamento.
Léo: Eu fui lá no instituto e o presidente me disse: “Olha, em campanha eleitoral não vai ficar bem eu comparecer, isso está muito próximo de campanha, isso vai ser explorado. Teria algum problema de meu filho ir com a dona Marisa e você mandaria alguém”. Eu, de novo, me ofereci e fui e visitamos. Estava tudo ok, eles aprovaram tudo que estava – já estava numa fase bem adiantada a reforma. E disseram: “Está tudo ok”. Então dona Marisa me fez um pedido: “Olha, nós gostaríamos de passar as festas de fim de ano aqui no apartamento, teria condições de estar pronto” Eu digo: “Olhe, pode estar certa que antes disso nós vamos entregar tudo pronto”. E foi o que ocorreu.
Léo Pinheiro disse ao juiz Sérgio Moro que Lula ordenou que ele destruísse possíveis provas de repasses ilegais ao Partido dos Trabalhadores. Léo narrou a pergunta que o ex-presidente Lula lhe fez:
“Você tem algum registro de algum encontro de conta, de alguma coisa feita de João Vaccari com você? Se tiver, destrua”.
Léo Pinheiro não foi perguntado se chegou a destruir as provas.
O ex-presidente da OAS tentou fechar um acordo de delação premiada em 2016, mas o processo foi suspenso pela Procuradoria de República, depois do vazamento de parte do possível acordo. Na quinta-feira (21), o advogado de Léo Pinheiro disse que voltou a conversar com os procuradores para fazer esta delação.
As respostas
A defesa do ex-presidente Lula afirmou que Léo Pinheiro contou uma versão fantasiosa sobre triplex acordada com o Ministério Público Federal, com o objetivo de o empreiteiro fechar uma delação premiada que possa tirá-lo da cadeia.
Disse também que a declaração de Léo pinheiro jamais vai se sobrepor ao depoimento prestado por 73 testemunhas e diversos documentos que estão no processo e que demonstram de uma forma cabal que o apartamento não é do ex-presidente Lula e que ele não teve qualquer participação em ilícitos da Petrobras.
Sobre a orientação para a destruição de provas, a defesa declarou que Léo Pinheiro contou uma versão fabricada, fantasiosa e absurda, e que esse diálogo não foi presenciado por ninguém.
A defesa de João Vaccari disse que as declarações de Léo Pinheiro não são verdadeiras, que são a manifestação de alguém suspeito que está negociando uma delação, e que só teria relevância se houvesse prova. Segundo a defesa, não existem provas porque os fatos jamais ocorreram.
O PT não quis se manifestar.