A Turquia tinha poucas esperanças nesta quarta-feira (14) de encontrar sobreviventes da explosão em uma mina de carvão que deixou pelo menos 205 mortos, e o governo decretou três dias de luto nacional.
A imprensa afirma que quase 200 trabalhadores continuam presos nos escombros das galerias, a centenas de metros de profundidade.
“A esperança de encontrar sobreviventes na mina diminui, mas vamos continuar até o fim”, afirmou em Soma, distrito de Manisa, o ministro da Energia e dos Recursos Naturais, Taner Yildiz.
“O incêndio continua na mina, o que dificulta as tarefas de resgate”, completou.
O ministro anunciou um balanço provisório de 205 mortos, mas afirmou que o número pode voltar a aumentar, sem revelar quantos trabalhadores permanecem na mina.
Seis mineiros foram retirados com vida nesta quarta-feira, informou a imprensa local, sem revelar o estado de saúde das vítimas.
Pouco antes, Yildiz afirmou que 363 mineiros foram resgatados depois da tragédia.
No total, 787 mineiros estavam na mina no momento da explosão, que aconteceu na terça-feira por volta das 12h30 GMT (9h30 de Brasília) e que, aparentemente, foi provocada por uma falha elétrica em um transformador.
O primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, que cancelou uma visita de trabalho a Albânia, pretende visitar o local da tragédia nesta quarta-feira.
“Estamos entrando em uma fase crítica. À medida que o tempo passa, seguimos rapidamente para um fim desfavorável”, advertiu Yildiz, que anunciou 80 feridos entre as pessoas resgatadas, quatro em estado grave.
Muitos trabalhadores conseguiram escapar, mas outros ficaram retidos em uma área isolada, afirmou à AFP um funcionário da mina que pediu anonimato.
“O balanço de mortos, que já é muito alto, está se aproximando de um nível muito inquietante. Se aconteceu alguma negligência, não vamos fazer vista grossa. Faremos todo o necessário, incluindo medidas administrativas e legais”, disse Yildiz.
Durante a noite, centenas de trabalhadores das equipes de resgate retiraram aos poucos os feridos, muitos deles com problemas respiratórios.
Parentes e amigos esperavam, angustiados, notícias das vítimas.
“Espero notícias do meu filho desde o início da tarde”, disse à AFP Sena Isbiler, de 50 anos.
“Não tenho notícia alguma. Ele ainda não saiu”, lamentou.
“Quatro equipes de emergência trabalham na mina. O problema é o fogo, mas enviamos oxigênio às galerias que não foram afetadas”, disse o ministro da Energia.
O ministério turco do Trabalho e Previdência Social informou que a mina passou por uma inspeção em 17 de março e respeitava as normas de segurança.
Mas a informação foi rebatida por trabalhadores.
“Não existe nenhuma segurança nesta mina. Os sindicatos são marionetes e a direção pensa apenas no dinheiro”, disse o mineiro Oktay Berrin à AFP.
“As pessoas estão morrendo ali dentro, outras estão feridas, e tudo por uma questão de dinheiro”, afirmou, irritado, Turgut Sidal.
Vedat Didari, especialista em indústria mineradora, explicou à AFP que o principal risco é a falta de oxigênio.
“Se os ventiladores não funcionarem, os mineiros podem morrer em uma hora”, disse Didari, da Universidade Bulent Ecevit, em Zonguldak.
O acidente de Soma é uma das maiores tragédias industriais da história da Turquia.
As explosões em minas de carvão são comuns na Turquia, principalmente no setor privado, que, em muitos casos, não respeita as regras de segurança. O acidente mais grave aconteceu em 1992, quando 236 mineiros perderam a vida em uma explosão de gás na mina de Zonguldak.
O distrito de Soma, que tem cerca de 100.000 habitantes, é um dos principais centros de extração de lignito (carvão fóssil), a principal atividade da região.