Dentre as planilhas com nomes de políticos e anotações encontradas na residência do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa, que aparece em vários documentos e mensagens de executivos da empreiteiras identificado pela sigla BJ, a Polícia Federal encontrou uma anotação que faz referência ao pagamento de 5% do valor de um contrato das obras da rodovia Mogi-Dutra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, em 2002, para um nome identificado como “santo”.
No texto escrito em uma folha de caderno, há a referência ao “valor da obra”, no total de R$ 68,7 milhões e, logo abaixo a expressão “custos c/ santo = 3.436.500?. A palavra “apóstolo” foi rasurada e substituída por “santo”.
Em fevereiro daquele ano, um dia depois da abertura dos envelopes, o deputado estadual Luís Carlos Gondim (então PV, atualmente no Solidariedade), que tem base eleitoral na região de Mogi das Cruzes, anunciou o resultado da licitação vencida pela Construtora Queiroz Galvão, com o menor preço, de R$ 68,6 milhões.
Na abertura dos envelopes em 2002, a Andrade Gutierrez, a OAS e a Odebrecht apresentaram propostas acima de R$ 70 milhões e foram derrotadas.
O material encontrado na operação Acarajé, 23ª fase da Lava Jato, ainda não foi completamente analisado pela Polícia Federal. O próprio juiz Sérgio Moro, ao decretar sigilo no material encontrado nas investigações e que podem envolvem políticos com foro privilegiado em atos ilícitos, assinalou que é “prematura” qualquer conclusão sobre o que foi encontrado na residência do executivo da Odebrecht.
O material, incluindo a planilha com nomes de mais de 200 políticos associados a pagamentos , que em grande parte não batem com os valores declarados à Justiça Eleitoral, deve ser encaminhado ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira, 28.
A Odebrecht Infraestrutura, presidida por Benedicto Barbosa, era uma das empresas do Grupo Odebrecht que cuidava de licitações envolvendo obras públicas em todo o País. O orçamento da empresa corresponde a 20% do orçamento da Construtora Norberto Odebrecht, segundo afirmou o próprio executivo à Polícia Federal, e não participa de licitações na Petrobrás, o que abre o leque das investigações da Lava Jato para outros setores da administração pública federal e também nos Estados.
Por meio de nota divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo, a assessoria do governador de São Paulo disse que não faria comentários sobre o manuscrito que indica a ação de cartel e o suposto pagamento de propina na obra de duplicação da rodovia Mogi-Dutra.
“Quem tem que explicar as anotações mencionadas pela reportagem é quem as fez. A licitação para a referida obra foi vencida pela empresa Queiroz Galvão”, diz.
Cópia da anotação, que foi apreendida pela Polícia Federal em fevereiro, foi encaminhada para o órgão de controle interno no governo estadual, segundo a assessoria.
“Como a regra do governo do Estado é a total transparência, o documento foi enviado para apuração da Corregedoria Geral da Administração”, disse a nota