A delação do senador Delcídio do Amaral foi devastadora. Ele citou uma longa lista de políticos, fez acusações ao governo, à oposição e aumentou a pressão sobre o governo.
E o ministro Aloízio Mercadante acabou no centro da crise. Delcídio do Amaral apresentou uma gravação e acusa a presidente Dilma de escalar o ministro para tentar evitar o acordo de delação.
A acusação é grave. Na gravação, Mercadante oferece ajuda política e financeira. Foi uma bomba que caiu em Brasília. Um fato novo que complicou ainda mais o cenário político.
Aloízio Mercadante é um dos principais nomes do governo Dilma, o homem forte que está sempre ao lado da presidente. Delcídio do Amaral entregou aos procuradores uma conversa gravada de um assessor de Delcídio com Mercadante. E em depoimento, Delcídio disse que Mercadante ofereceu ajuda e sugeriu que não fechasse acordo de delação premiada.
O ministro da Educação, Aloízio Mercadante, foi um dos políticos citados pelo ex-líder do governo, senador Delcídio do Amaral, na delação premiada. Em um depoimento ao Ministério Público e a integrantes da Polícia Federal, o senador entregou uma gravação feita por um assessor dele, Eduardo Marzagão. Delcídio contou que o assessor foi procurado pelo ministro e decidiu gravar as duas conversas que teve. Nessa época, o senador estava preso.
Delcídio disse como interpretou a oferta de ajuda feita por Mercadante ao assessor: “Ele arrumaria um jeito de pagar meus advogados.” Ele se referia ao trecho da conversa em que o assessor de Delcídio fala sobre as dificuldades financeiras enfrentadas pelo senador.
Eduardo Marzagão: Só para você ter uma ideia, eles estão vendendo a casa.
Aloízio Mercadante: Para não ficar expostos.
Eduardo Marzagão: Não, até para…
Aloízio Mercadante: Arrecadar dinheiro.
Eduardo Marzagão: Arrecadar dinheiro. Os carros, a casa. A fazenda, porque é da mãe e do irmão, então lá não vai mexer. Aliás, o irmão tá vindo aí para tratar desses assuntos. Assuntos financeiros mesmo.
Aloízio Mercadante: Patrimônio da família.
Eduardo Marzagão: Patrimônio, as dívidas que ele tem. Para você ter uma ideia da situação dele, o salário dele tem consignado. O salário do Delcídio tem empréstimo consignado, que ele está pagando.
Aloízio Mercadante: Bom, isso aí também a gente pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu possa ajudar. Eu só tô aqui para ajudar. Veja o que que eu posso ajudar.
Na segunda conversa com o assessor, Mercadante disse que Delcídio deveria esperar.
Aloízio Mercadante: Eu acho que ele devia esperar e não fazer nenhum movimento precipitado que ele já fez o movimento errado. Deixa baixar a poeira, que vai sair, uma confusão muito grande para o país. Para ele não ser o agente que desestabilize tudo. Senão vai sobrar uma responsabilidade para ele monumental, entendeu?
Ainda na conversa com Marzagão, o ministro Mercadante elogiou o ex-líder do governo e diz que falaria com o presidente do Senado para tentar encontrar uma saída que permitisse suspender a prisão de Delcídio junto ao Supremo Tribunal Federal.
Aloízio Mercadante: Não, não, mas o presidente vai ficar no exercício. Também precisa conversar com o Lewandowski. Eu posso falar com ele para ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com o ministro no Supremo também.
Eduardo Marzagão: Complicado.
Aloízio Mercadante: Mas é o seguinte, eu não tenho nada a ver. O Delcídio… Zero… Não tô nem aí se vai delatar, não vai delatar, não tô nem aí. A minha questão com ele é que eu acho um absurdo o que aconteceu com ele.
Aos investigadores, Delcídio disse que entendeu “que a mensagem de Aloízio Mercadante era no sentido do depoente não procurar o Ministério Público Federal”, e que Aloízio Mercadante é um dos poucos que possui a confiança de Dilma Rousseff.
“Em um dos diálogos ele diz assim: Você, Margazão, se a Dilma tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu vou estar ao lado dela’. Ou seja, sutilmente o seguinte: ‘eu sou o cara, eu sou a pessoa de confiança dela e portanto você entenda a minha mensagem. Eu não estou falando aqui sozinho, isoladamente. Eu tenho respaldo quanto ao que estou falando’”, disse Delcídio.
Assim que as conversas foram divulgadas, inicialmente pelo site da revista Veja, o ministro se reuniu com a presidente Dilma Rousseff. Mercadante é considerado um dos ministros mais próximos da presidente. Já ocupou outros dois ministérios, inclusive a poderosa Casa Civil. Mas o recado do Palácio do Planalto era para que ele deixasse claro que agiu por iniciativa própria.
Em nota, sem citar o nome de Delcídio do Amaral, a presidente disse que repudiou com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do nome dela na iniciativa pessoal do ministro Aloízio Mercadante, no episódio relativo à divulgação pela revista Veja.
Mercadante convocou uma entrevista coletiva para explicar o episódio. E disse que não falou em nome da presidente. “Ela desconhecia isso. Esse é um ato pessoal meu, de responsabilidade inteiramente minha e eu vou tomar as medidas necessárias. Estou encaminhando, não sei ainda, porque o advogado está preparando, ao procurador-geral da República e o presidente do Supremo e estou me dispondo para esclarecer o que for necessário”, afirmou o ministro da Educação.
O ministro disse que procurou o assessor de Delcídio para prestar solidariedade e que ofereceu ajuda sobre a tese jurídica envolvendo o Senado. Negou que tenha procurado o Supremo. “Jamais tratei com qualquer ministro sobre esse assunto, nem sobre senado e nem sobre senador Delcídio. Jamais tratei. Eu estava levantando uma tese. Eu falei: ‘o caminho é conversar com os consultores do Senado’. Como ele não me deu nenhum retorno, não disse se tinha conversado com consultor, não disse se tinha interesse, eu não sou advogado, eu deixei em responsabilidade deles”, afirmou Mercadante.