Quando o nordeste do Japão foi atingido pelo forte tremor de 9 graus de magnitude no dia 11 de março de 2011, a primeira coisa que o fotógrafo Shinpei Kikuchi, de 67 anos, fez foi pegar a câmera e sair correndo para a região mais alta da cidade.
“Corri em direção a um centro de evacuação com o tsunami perto dos meus calcanhares”, lembra o japonês, que passou a fotografar toda a fuga. “Não tirei as fotos com o objetivo de fazer um registro daquele acontecimento para mostrar às pessoas depois. Foi apenas um instinto”, diz.
As fotos de Kikuchi hoje viajam o Japão todo e, na semana que marca os cinco anos de uma das piores tragédias naturais da história do país, a exposição foi aberta em Tóquio.
“Na medida do possível, quero que as pessoas não se esqueçam daquele dia. Quero que elas vejam as fotos e percebam também que a reconstrução está sendo feita”, explica.
Abrigo
Kikuchi voltou a viver na antiga casa com a esposa e os três filhos em Kamaishi, sua cidade natal localizada na província de Iwate, e que foi praticamente destruída pelas ondas gigantes.
Algumas das imagens mais fortes da tragédia são da pequena cidade, dos primeiros locais atingidos pelo tsunami. No dia de seu maior teste, os muros construídos para conter o mar não aguentaram a força da natureza.
Mas se a natureza destruiu Kamaishi, ela também salvou a maior parte de seus moradores. Colinas próximas à costa ofereceram a eles a segurança que as barreiras artificiais não conseguiram garantir.
“O tsunami foi mais rápido e mais forte do que eu imaginava”, lembra ele. “Naquela correria, minha mulher ficou presa num telhado e foi levada pelas águas, mas conseguiu sobreviver e apareceu no abrigo à noite”, conta.
Daquele dia em diante, o fotógrafo e a família passaram a viver como refugiados em abrigo provisório. Alguns meses depois foram para uma moradia alugada, enquanto reformavam a antiga casa.
“Tem gente que não sabe se vai poder sair dos abrigos temporários e retornar a suas casas antigas. Morar em outro lugar é uma possibilidade”, lamenta.
Registro fotográfico
Para se manter ocupado, o japonês deixava o abrigo logo pela manhã para fotografar a cidade nos dias que se seguiram ao tsunami.
Enquanto a maioria das pessoas ainda dormia, ele andava pelos locais destruídos em busca de imagens. “Isso se tornou minha rotina diária.”
Ele segue fotografando. Acumula cerca de 30 mil imagens por mês, todas devidamente arquivadas com a ajuda dos dois filhos mais velhos, também fotógrafos.
Nestes cinco anos, Kikuchi registrou de tudo: a vida cotidiana, as mudanças de estação, eventos tradicionais e, principalmente, a reconstrução da cidade natal.
“Quero continuar a registrar as pessoas e mostrar, através das imagens, como elas se esforçam para reconstruir suas comunidades e, assim, garantir que as memórias desta catástrofe não desapareçam com o tempo.”
Segundo dados oficiais do governo japonês, um total de 15.894 pessoas morreram no terremoto de 9 graus seguido de tsunami, que devastou o litoral nordeste do Japão. Outras 2.572 pessoas continuam na lista de desaparecidos.
Destruição provocada pelo tsunami de 2011 (Foto: Shinpei Kikuchi)
Fotos de Kikuchi fazem parte de exposição aberta em Tóquio (Foto: Shinpei Kikuchi)
Sobreviventes caminham em meio ao caos provocado pelo tsunami (Foto: Shinpei Kikuchi)
‘O tsunami foi mais rápido e mais forte do que eu imaginava’, disse Shinpei Kikuchi (Foto: Shinpei Kikuchi )
Para se manter ocupado, o japonês deixava o abrigo logo pela manhã para fotografar a cidade nos dias que se seguiram ao tsunami (Foto: Shinpei Kikuchi)
Grupo se aquece com fogueiras após tsunami que devastou cidades japonesas (Foto: Shinpei Kikuchi )
Imagem mostra menina que sobreviveu ao desastre (Foto: Shinpei Kikuchi)