Fotógrafo Sebastião Salgado é tema do filme O Sal da Terra

A tela escura enche a sala de cinema. Sobre ela, a voz do cineasta Wim Wenders (Pina e Asas do Desejo) fala sobre as origens do termo fotografia e define o ofício: “Fotógrafo é quem escreve a partir da luz”. Faz, assim, a apresentação do tema do documentário O Sal da Terra, que, ao longo de 110 minutos, retrata a trajetória do fotógrafo brasileiro Sebastião  Salgado, um dos principais expoentes da fotografia mundial contemporânea.

Wenders, divide a direção do documentário com Juliano Ribeiro Salgado, 41, filho mais velho de Sebastião e de sua “parceira de toda vida”, Lélia Wanick Salgado. A dupla compartilha com Sebastião a narração do filme.

As falas de Wenders trazem o olhar externo sobre o trabalho do fotógrafo. Trabalho, aliás, que o encanta. Motivo pelo qual se propôs a realizar a obra junto com Juliano, cuja voz trata da faceta familiar de Salgado, o pai que se ausentava por longos períodos e que, ao voltar para casa, tinha histórias incríveis para contar.

Algumas delas Salgado compartilha com o espectador ao ficar frente a frente com algumas de suas fotos. As imagens inundam a tela inteira do cinema e, com uma pontuação musical de altíssimo nível, permitem uma fruição diferente da que se tem ao vê-las menores em um livro.

Sebastião fala e o que o espectador ouve não é um fotógrafo discorrendo sobre técnica. O brasileiro nascido em Aimorés (MG), em 1944, mergulha nas imagens feitas durante seus 40 anos de carreira e fala de vivência, aprendizados e impressões durante sua imersão nos  lugares por onde andou para fotografar.

As imagens feitas na África, mais precisamente em Ruanda, onde ocorreu, em 1994, um dos maiores genocídios do século 20, não são duras apenas para quem as vê. Fazê-las foi igualmente difícil. Salgado conta isso no filme. Revela que a brutalidade presenciada naquele país lhe fez perder a fé no homem. Foi um momento de depressão.

A saída para essa crise foi a volta às raízes, ao Brasil, de onde saiu em 1969, época da ditadura militar, e à fazenda da família. Não mais o paraíso da sua infância, mas um lugar ambientalmente degradado.
O retorno à vida está intimamente ligado ao renascimento da fazenda, hoje o Instituto Terra, uma área completamente coberta pela vegetação de Mata Atlântica e que convive, à medida que as árvores se adensam, com o renascimento também das nascentes do Rio Doce, o maior rio que nasce e morre no Sudeste do Brasil, e que tem mais de 400 mil nascentes. A Bacia, que inclui 228 municípios, sofre problemas de seca.

Filmando o pai

Em entrevista coletiva, Juliano Ribeiro Salgado, codiretor de O Sal da Terra, conta que o documentário teve uma função familiar importante. “Serviu para a gente se aproximar. Tínhamos uma relação distante, conversávamos sobre futebol e amenidades”.

O momento crucial em que isso ocorreu foi quando seu pai viu imagens a seu respeito feitas e editadas pelo filho. “Ele se emocionou com o plano, com o meu olhar. E as coisas melhoraram entre a gente, ficamos mais próximos”.

No documentário, Juliano não conduz as entrevistas. A tarefa coube a Wim Wenders, que não faz parte da família. Juliano revela que, aos 71 anos, seu pai é um homem cheio de energia e saúde. Contudo, não está nos planos do fotógrafo se lançar em projetos de longuíssima duração, retratando guerras, por exemplo. Sua lente, hoje, está mais voltada às questões ambientais.